Democracia: o menos pior dos sistemas

16 de janeiro de 2020

DEMOCRACIA: AINDA A MELHOR FORMA DE ESCOLHA

 

Quando lanço um olhar para minha atuação política italiana na América do Sul, por quase 20 (vinte) anos, me dou conta que, desde a primeira eleição ao COMITES PR/SC, em 2004, tenho sido confrontado com inúmeras situações que envolvem interesses de todo tipo, pessoas e cargos, para os mais variados postos na área, de maior ou menor relevância. Isto com questões partidárias, administrativas, jurídicas e a frequente consulta a quem tem o poder e o dever de tomar decisões, de escolher e de tornar a aplicação política possível e concreta, com todos os riscos de erros e acertos decorrentes.

 

Situação que se repetiu, em 30 de novembro de 2019, numa dessas novidades inesperadas da dinâmica política, quando nos vimos diante de uma decisão unânime, até mesmo por não contrariedade de alguns dos conselheiros do COMITES PR/SC e a minha eleição para a presidência do órgão. Um cargo importante, que foi imaginado e até articulado ainda em 2004, pelo nosso falecido amigo, ex-presidente do CCI PR/SC, conselheiro do COMITES e CGIE, Luigi Barindelli, que me dizia claramente, que um dia ocuparíamos este cargo. Com alguns anos de atraso, a morte do nosso amigo Barindelli, em 2006, muita luta e perseverança, é com muita alegria e satisfação que alcançamos este objetivo, nosso e de muitos companheiros que nos apoiam desde sempre.

 

Sensação de missão cumprida que, ao mesmo tempo, nos colocou, nos dias seguintes à eleição, numa difícil posição de administrar iniciativas bastante radicais contra o Cônsul Italiano de Curitiba, Raffaele Festa e determinou a necessidade de buscar uma decisão colegiada, com a aplicação da velha regra democrática do voto dos conselheiros. Isso para avaliar uma proposta, que nasceu de vários assuntos polêmicos, como relatados na edição 248 da Insieme (Dezembro/2019) e que merecem uma posição firme do COMITES, órgão que representa politicamente a comunidade italiana em cada consulado existente fora da bota.

 

Confesso que fiquei surpreso com o resultado da consulta formal e expressa, porque foram 10 VOTOS CONTRA A PROPOSTA, APENAS 1 A FAVOR, 4 ABSTENÇÕES/AUSÊNCIAS E 1 VOTO DI MINERVA NÃO NECESSÁRIO, num total de 16 votos.

 

A democracia moderna, da separação clara de poderes, nasceu com a ideia do poder limitado, na linha do filósofo francês, Montesquieu (1689–1755), de que ninguém pode mandar sozinho porque não é confiável. E o voto individual e universal é a forma de escolher os líderes, aqueles que irão fazer parte da máquina do estado, mesmo que sejam incapacitados, eleitos por muitos indivíduos que sequer sabem a diferença entre direita e esquerda e suas inclinações históricas, a favor ou contra temas importantes para a sociedade e que determinam os rumos das cidades, estados e países. Não são poucos os exemplos que temos de eleitos sem a menor condição de comandar nada e os resultados podem ser conferidos diariamente.

 

E isso pode ser colocado na conta da democracia? Montesquieu pensou esta divisão do poder individual do voto desde que os votantes fossem os membros da aristocracia e não os que hoje são a maioria dos eleitores, da classe menos culta e preparada para decidir. Todavia, dividir quem vai mandar é a única forma de encontrar, entres os inúmeros postulantes aos cargos e ao poder, quem realmente possa ter alguma chance de cumprir dignamente a missão. Mas, ao dizer dignamente, lançamos mão de um conceito, que pode ser um para mim e bem diferente para outro eleito.

 

A questão que fica é quando e como se faz realmente justiça nas escolhas democráticas, quando a qualidade dos votos pode estar contaminada. Quem já não se perguntou se não é melhor ser ignorante das coisas como tantos por aí e não precisar se importar tanto com o futuro da sociedade?

 

Claro que esta crítica ao voto “democrático” está relacionada apenas e tão somente ao conceito geral das eleições e não ao caso concreto da nossa histórica consulta, feita aos conselheiros do COMITES PR/SC, já eleitos e selecionados pela Comunidade Italiana para, em nome dela, tomar decisões como esta, que reputamos importante e significativa. Isto porque houve uma tendência clara e definitiva sobre uma das propostas apresentadas e, contra esta deliberação, não temos o que questionar, mas apenas cumpri-la.

 

Essa decisão resolve – pontual e provisoriamente – uma proposta que nasceu dentro do próprio conselho, e teve um resultado quase unânime de não haver posturas radicais neste momento. Mas, o episódio em si e as vozes da comunidade continuam indicando problemas que são recorrentes na estrutura consular. Cabe, então, a nós conselheiros, mantermos a vigilância constante e construtiva para que episódios de mau atendimento, inconformidades, dificuldades e problemas telemáticos, desrespeito e até censura não mais aconteçam. A comunidade italiana do PR e SC aplaude os importantes resultados da atividade burocrática recente do nosso consulado, porém “auspica” que o tratamento humano seja também um quesito de excelência.

 

E viva a democracia, ou melhor, que ela realmente esteja viva!

 

 

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