Fascismo Moderno ou Evolução da Sociedade?

28 de novembro de 2018

“É fácil conquistar um reino. Difícil é mantê-lo” (Niccolo Machiavelli)

 

Publicado originalmente na Revista Insieme, edição 236, de Nov/2018.

 

Mas por que escutamos tanto o termo Fascismo nos últimos tempos? Muito usado, com ou sem conhecimento sobre sua origem e significado, surge como contraposição à liberdade conquistada pela sociedade civil quando, para alguns esta é demasiada, beirando à anarquia, o que acaba por determinar uma guinada política para governos de centro-direita, como ocorreu na França, Hungria, Argentina e USA e também por aqui, após décadas de centro-esquerda, o termo é usado como referência ao sistema italiano de governar entre 1922/1943.

 

De cunho nacionalista, radical e totalitário, inspirado nas ideias de Giovanni Gentile (1875-1944), ganhou forma com Benito Mussolini na Itália pós I Guerra Mundial (a exemplo de Adolf Hitler na Alemanha e Francisco Franco na Espanha), com apoio de banqueiros e empresários em oposição ao avanço do Comunismo. Durante a mesma guerra (1914-1918) a Itália estava com os aliados contra os austríacos, mas viu franceses e ingleses privilegiados com os seus prêmios de guerra e até aumentando suas colônias, enquanto ela entregou territórios à Iugoslávia e arcou com enormes prejuízos.

 

Esta situação de revolta dos italianos, diante do caos econômico e social em que se viu mergulhada, causa até de parte da conhecida imigração em todo o mundo, fez surgir os “Fasci di Combattimento” (um símbolo romano em forma de feixe de varas de madeira unidas à lâmina de um machado, símbolo de punição dos magistrados da Roma Antiga), inicialmente com um grupo de ex-combatentes da 1ª Guerra Mundial, que preconizavam um estado forte, de partido único e corporativo, com o ideal de inexistência de atritos de classes, o que durou entre 1922 a 1943, quando Mussolini acabou deposto pelo avanço das tropas norte-americanas, refugiando-se no Norte do país, onde fundou a República de Salò com alguns dos seus ainda seguidores, mas acabou morto em 1944 por forças do príncipe Umberto de Savoia.

 

Os princípios do estado fascista eram a lei e vontade da nação acima da individual, todos os valores humanos e espirituais deviam estar dentro do estado e toda ação individual deveria servir para preservá-lo e expandi-lo. Para isso era necessário moldar todas as vontades individuais numa só e as que estivessem fora seriam reprimidas. “A bem da verdade, o fascismo deveria ser chamado de corporativismo, pois representa a fusão do poder da corporação e do poder do governo” (Benito Mussolini).

 

E é justamente por querer unificar aspectos e comportamentos tão diferentes da sociedade que se contrapõe ao moderno estado democrático de direito, do respeito às diferenças sociais, da livre opção sexual e da liberdade de escolha em todas as frentes da vida moderna que são contestados pelos chamados esquerdistas.

 

Líderes nacionalistas xenófobos se inspiraram no modelo dito como “fascista”, enquanto outra parcela da sociedade não aceita este tipo de “regulação” e, por isso ambos se acusam mutuamente de “fascistas” de um lado e “comunistas” de outro, o que se confirma na campanha e nas rodas de discussões do processo político eleitoral brasileiro, que acontece justamente neste período e que tem afastado até familiares e amigos, diante da dicotomia exacerbada que a companha política tem proporcionado, especialmente nas redes sociais.

 

Mas, muitos acham urgente e oportuno que haja uma intervenção total das “forças do bem”, que poderiam resolver todos os problemas, isso porque a corrupção, a criminalidade, até a indolência e a dependência de parcela da população às políticas sociais do governo e mesmo o modo de cada um viver a sua vida não estariam de acordo com o sistema ideal, que deve ser aquele da corporação única, onde impera a lei, o trabalho silencioso, a família tradicional, a religião, a ordem e a liberdade absolutamente vigiada. A onda moralizadora nasce de erros fatais dos recentes governos de centro-esquerda, que, mesmo com alguns acertos, permitiram a ação de “quadrilhas” de políticos e lobistas que sangraram empresas estatais para manter suas estruturas nefastas de poder e colocaram a nação em grandes dificuldades econômicas, financeiras e até morais.

 

Para a nova “Onda”, numa alusão ao filme do alemão Alex Grasshoff, de 1981, que transforma uma turma de estudantes em fiéis seguidores do movimento, os motes são: “A força pela disciplina, a força pela comunidade e a força pela ação”, confirmando a capacidade de aglutinação ao líder, sem mesmo entender bem o que está acontecendo, mas, ao fazer parte de algo novo e que toma corpo, os medos e as fobias sociais são potencializados em força de conjunto e atitude para tomar o poder e impor a ordem e a disciplina a todos.

 

Até mesmo a cultura deve ter censura prévia para não “provocar desvios de conduta nas crianças e jovens”, sendo que todo o resto deve ser combatido e até mesmo eliminado e isso quer dizer até mesmo pessoas, pois não é raro ouvir de alguns líderes e candidatos mais fanáticos, os jargões: “bandido bom é bandido morto”; “é preciso armar a população para se defender a qualquer custo”.

 

A história nos ensina que nenhuma forma de governo radical é ideal, o comunismo como preconizado no século passado já afundou nas suas próprias deficiências e o autoritarismo leva apenas ao controle temporário e superficial das massas que, com o tempo, percebem a dominação e, certamente, lutarão incansavelmente até dela se libertar, como dizia Machiavelli.

 

 “Acreditamos saber que existe uma única saída, mas não sabemos onde está. Não havendo ninguém do lado de fora que nos possa indicá-la, devemos procurá-la por nós mesmos. O que o labirinto ensina não é onde está a saída, mas quais os caminhos que levam a lado algum.” (Norberto Bobbio sobre a política italiana pouco antes de morrer, em 09/01/2004).

 

É próprio da natureza e a história nos conta e comprova que é pela educação, pela liberdade, justiça e no respeito no tratamento com todos que temos paz e prosperidade. Não por acaso, nos países em que a educação de boa qualidade é prioridade e onde impera a democracia do estado de direito, não temos episódios de comunismo, nem de fascismo, seja ele antigo ou moderno.

 

 

 

   

 

 

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