Paradoxos Políticos Insuperáveis

31 de agosto de 2020

Mesmo com todas as limitações de uma ampla atenção ao assuntos políticos que me são afeitos, devido à alta demanda de trabalho jurídico, na Pandemia e suas nefastas consequências na atividade da maioria dos nossos clientes, me chamou atenção uma postagem diretamente a mim dirigida na manhã de hoje, 20/08, numa rede social, por um amigo de São Paulo: “Penso che un certo politico influenzi la rivista ‘Insieme’ al suo bel piacere.”

 

Claro que procuro manter um acompanhamento diário das principais notícias que dizem respeito à Comunidade Italiana, especialmente no PR/SC, mas também no Brasil e, por extensão, na América Latina, onde ocupo a vice-coordenadoria do MAIE.

 

E esta cobrança do amigo Flangini, tem a ver com as recentes manifestações públicas do ex-deputado Fabio Porta, ora Coordenador do PD na América do Sul, sempre na Revista Insieme (18/08 e 20/08), seja sobre o referendum da redução do número de parlamentares que votaremos SIM ou NÃO – se os correios permitirem – até 15/09/2020, seja pelas críticas às propostas de mudanças nos critérios de concessão de cidadania, com eventuais exigências de conhecimento mínimo da língua italiana para o cônjuge ou a partir de determinada geração do candidato.

 

Também diz Porta que está “alarmado” com o fechamento de consulados e com o perigo de contágios pela Covid-19, especialmente na América Latina, sendo que foram no pouco mais de 1 ano passado que vários consulados foram reabertos, bem como vários outros estão em fase de abertura ou reforma e ampliação de atendimento. Tudo isso para melhorar o atendimento a quem precisa; e não são poucos! Se há cuidados sanitários para os atendimentos, em 2020, estes são decorrentes da Pandemia e não de uma política de que se ocupa o governo para os italianos no exterior, em tempos de normalidade.

 

Temos em curso propostas que afetam diretamente os interesses políticos do expoente PD, que são do atual governo PD/M5S do qual Porta faz parte, mesmo que não queira ser vinculado quando se trata de redução dos parlamentares, ou restrições e exigências para a concessão de cidadania, como quer a deputada Siragusa (M5S). Tentar passar a conta para outros, que estão diariamente lutando para obter os melhores resultados para os residentes no exterior é uma clara tentativa de confundir os eleitores.

 

Por falar em governo PD, é justamente o partido que quer alterar o critério de jus sanguinis para jus soli, evidentemente pensando apenas nos limites da bota, e isto Porta quer disfarçar, dizendo que não é isso, que não é de acordo, que poderia ser um verdadeiro jus culturae, enquanto é uma Deputada do PD, Laura Boldrini, que assim o fez e está em processo de discussão e não seria nenhuma surpresa, futura aprovação, e para ele, fica difícil dizer que o PD quer o jus soli na Itália. Porta, claramente, porque já eleito pelos italianos no exterior em mais de uma legislatura, não pode dizer que é de acordo com as diretrizes do partido, um paradoxo insuperável.

 

O mesmo ocorre com o referendum para a redução de 1/3 do Parlamento Italiano, matéria que é praticamente dada como certa que será aprovada na Itália, com proposição e claro apoio do PD, mas Porta, para os ítalo-brasileiros, diz que não é de acordo. Aliás, inclusive com campanhas e comitês pelo NÃO, com o qual evidentemente nós, cidadãos ítalo-brasileiros que vivemos fora da Itália, nos posicionamos e concordamos neste sentido, pois reduziria de 1/3 nossa já pequena representação. Podemos não representar muito, mas nada nos impedirá de continuar lutando para manter nossas conquistas e sabemos que os custos de 18 parlamentares no mundo, reduzindo para 12, ou seja, o corte de 6 não representará mais do que 1 gota de água no oceano dos custos do Governo Italiano.

 

Como se viu da parte do Coordenador do MAIE Europa, Francesco Patamia, em artigo publicado hoje no site ItaliaChiamaItalia, “o expoente dem, então, faria bem em pedir luzes ao seu próprio partido, ao PD. Não sabe, por exemplo, que o PD é representado também na Farnesina, por uma vice-ministra do Exterior? Não sabe que mais da metade dos Ministros deste governo fazem parte do seu partido ou são ex PD? Eis aí o paradoxo: Porta se refere a um executivo que é também o seu e o interpela sobre uma escolha feita a qual é da sua maioria. Talvez – conclui Patamia -, ao invés de apontar o dedo contra alguém, o coordenador Pd Amércia do Sul faria melhor olhar com mais atenção à sua própria casa”.

 

Com todo o respeito e até compreendendo a posição do colega Porta, também coordenador de uma grande agremiação política dos cidadãos italianos residentes da América Meridional, sujeitos que somos a situações de desconforto entre as próprias convicções – que admiro e reconheço – e aquelas dos caciques partidários, tenho que concordar com o amigo veronese Flangini. De fato, não podemos ter apenas uma versão do momento político difícil, desgastante e do nosso futuro, absolutamente incerto, diante de tantas crises e riscos de ainda maiores cortes na nossa importância, como as que estão em curso. E, aqui, cabe a nossa modesta crítica e contribuição positiva para o debate.

 

A propósito, minha posição é pelo NÃO no referendum e sempre defendi que todo candidato à cidadania deve ter um mínimo de conhecimento da língua e da cultura italiana para, ao menos, entendê-la e lhe dar o devido valor. Se isso deve ser lei, daí é responsabilidade do Parlamento e nossos atuais representantes legislativos, eleitos em 2018, onde andam e o que fazem?

 

 

 

 

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