Schopenhauer, a vida entre a dor e a arte
20 de maio de 2018
“A vida humana transcorre, portanto, toda inteira entre o querer e o conquistar. O desejo, por sua natureza, é dor: a satisfação bem cedo traz a saciedade. O fim não era mais que miragem: a posse lhe tolhe o prestígio; o desejo ou a necessidade novamente se apresentam sob outra forma (...) o nada, o vazio, o tédio”.
Numa semana de grandes novidades e mudanças no cenário político-judicial brasileiro, no âmbito da Lava-Jato, que muito lembra a Mani Pulite italiana (Insieme 206, Março/2016), onde se levou a cabo a prisão do Ex-Presidente Lula, motivo de comemoração para muitos e protesto para outros tantos, não podemos deixar de lembrar as lições do famoso filósofo alemão Schopenhauer, para quem a vida é um processo de contínuo sofrimento, no qual o único meio para o alívio momentâneo seria por meio da arte. Isto porque “o homem nunca é feliz, passa a vida inteira lutando por algo que acha que vai fazê-lo feliz. Não consegue e, quando consegue, fica desapontado: ele é um náufrago e chega ao porto de destino sem mastros nem cordâmes. Não interessa mais se ele foi feliz ou infeliz, pois a vida foi sempre apenas o presente, que estava sempre sumindo e agora terminou.”
Qualquer coincidência com as trajetórias políticas de dezenas de notáveis ainda atuais ou ex-líderes políticos conhecidos não são por acaso: uma carreira vencedora os leva ao topo do poder e, acostumados a ele e ao preço pago para alcançá-lo e suas condições determinam que, alguns anos ou até décadas depois, estão cumprindo pena de prisão pelos seus desvios de comportamento, por apropriação de recursos públicos, corrupção e tantos outros crimes, porque foram estes meios que os levaram até lá, como uma ciranda que não os permite sair depois dela fazer parte. E podemos afirmar que a grande maioria deles, com maiores ou menores implicações, têm muitos motivos para estarem preocupados com as ações judiciais que ainda serão noticiadas.
E é este pessimismo quanto ao futuro da nossa política que me fez lembrar de Schopenhauer e suas lições de que nossa vida é como uma bolha de sabão, que vamos enchendo aos poucos, sabendo que logo vai estourar.
Schopenhauer viveu sua infância em Hamburgo (Alemanha), depois em Paris, e num internato inglês. No ano de 1806 mudou-se Weimar. Doutorou-se na Universidade de Iena e ensinou na de Berlim, ao mesmo tempo que Hegel, a quem ele desprezava, rotulando-o como charlatão. Logo depois Schopenhauer acabou deixando a universidade, viveu uma vida solitária em Frankfurt, apenas com recursos de uma herança, sendo que sua fama só veio bem mais tarde na vida.
Influenciado por Immanuel Kant e sua metafísica, foi um notório romancista e, constantemente, promovia saraus literários na casa da família. A prosa e filosofia de Arthur Schopenhauer está entre as mais elogiadas na língua alemã. No entanto, todos nós sabemos que ele é conhecido como o pai do pessimismo e, não por acaso, influenciou os notáveis Friedrich Nietzche, Sigmund Freud e Carl Jung, não só na filosofia, mas também na psicanálise.
E é desse pessimismo – aqui também na esfera política – que parece estarmos contagiados, pois há uma constatação cada vez mais clara que a corrupção e a impunidade são um traço forte da nossa sociedade, já que quase todas as notícias que vemos diariamente são de agentes públicos corruptos e impunes que não param de ser revelados pelas novas e modernas redes de informação, oficiais ou não, que o mundo dispõe, para o bem e para o mal.
Quem de nós não viveu momentos de profunda angústia, e outros de imensa alegria? E, mesmo dois séculos depois de Schopenhauer, esta dicotomia é um dos maiores desafios para o homem moderno, a vida passa da alternância entre a dor de se conquistar algo e o do tédio diante da satisfação do objetivo alcançado. Esta é a explicação da infelicidade do homem, pois estes desafios são diários e, na lógica do nosso filósofo, toda a vida é sofrimento e dor.
Mas, ainda que tudo pareça trágico, que não haja salvação para o ser humano, há sim possibilidade de superar esta dor com a própria filosofia (amor pelo saber), que nos leva à experiência artística, na intuição que liberta a força da vontade individual. Contemplar a natureza, ter a experiência estética, do belo que existe na nossa vida, num texto bem escrito, não raro serve como alívio desta angústia e, fazendo da forma correta podemos encontrar alegra, felicidade e paz.
Ler livros em 3 línguas diferentes e todo o tempo, conviver com uma artista plástica crítica e atuante todos os dias, pesquisar e participar de muitas manifestações culturais como a que ocorreu em 04/04/18, enquanto o STF, em Brasília, decidia se Lula deveria ser preso ou se concedia o Habeas Corpus, na Capela Santa Maria, em Curitiba, com o amigo ítalo-brasileiro, Antonio Cava, o “mecenas” Marcelo Almeida e a nossa Conversa Entre Amigos (aqui lançando o novo livro “Sublime”), tem sido uma maneira de manter viva a lição de Nietzsche, que confirma Schopenhauer e para quem “nós temos a arte para que não venhamos a sucumbir pela verdade”.
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