Maior reserva petrolífera do mundo (297,7 bilhões de barris em 2013), a nossa vizinha Venezuela conseguiu, por muito tempo, manter alguma estabilidade e programas sociais para camadas mais pobres da população, enquanto as condições políticas e o preço do petróleo assim permitiam. Com o crescimento do débito público e a crise econômica sem precedentes, a indústria que não se modernizou para competir, muitas contradições e problemas conjunturais que há alguns anos afetam os 30 milhões de habitantes – muitos dos quais de origem italiana – engessou o governo que ainda se apega aos poucos apoios que ainda possui, seja interna como externamente.
Claro que, caindo a produção de 3bilhões de barris diários em 2012 a 1,3bilhões em 2018, seu nível mais baixo na história, não sobra muito para investir e manter a economia já dependente basicamente dos recursos do petróleo. E, claro, os EUA e sua economia imperialista, estão sempre presentes e interessados em guerras ou boicotes econômicos nos países produtores de petróleo, como no Afeganistão, Iraque, Síria e, agora, Venezuela.
No momento, o país está em crise institucional, política, econômica e até humanitária, próximo de uma guerra civil como ocorre na Síria e, por conta da dicotomia mundial entre esquerda e direita, vive a influência de uma guerra fria requentada.
Nicolas Maduro, herdeiro político de Hugo Chaves de origem sindicalista, é o Presidente, eleito em 2013 e reeleito em 2018, mesmo com muita contestação do processo eleitoral, tomando posse do segundo mandato em 10/01/2019. De perfil nacionalista, se diz anti-Imperialista, num misto de Socialismo e Patriotismo Panamericano, controla a Assembleia Nacional Constituinte, em curso desde 2017, quando destituiu o Parlamento e mantém-se no poder enquanto conta com o apoio dos militares.
Juan Guaidó é o Presidente da Assembleia Nacional, 35 anos, de família burguesa, eleito pelo Partido Vontade Popular, com inspiração no mote de Barack Obama, “SIM, SE PODE” se autointitulou presidente do país desde em 23/01/2019, na forma da Constituição, quando este assume se vago o cargo de presidente, convoca eleições gerais e espera o apoio do mundo político internacional, o que vem, naturalmente, daqueles que já estão mais alinhados com a direita.
Com a economia fora de controle, inflação de 10.000.000% ao ano, um salário inteiro é necessário para comprar um pacote de farinha, um pacote de macarrão e um leite em pó; faltam gêneros básicos, remédios, enquanto alguns setores conseguem comprar produtos com dólares, mas no mercado negro.
Mais de três milhões de pessoas deixaram o país nos últimos 4 anos, muitos para Brasil, através da fronteira com Roraima, como são noticiados diariamente. Mortes, perseguições, protestos e prisões de muitos opositores estão na ordem do dia. As ameaças de prisão, o congelamento das contas de Guaidó e tantas outras medidas do governo dão o tom de uma situação insustentável.
A China é o maior credor de mais de 20bilhões de US$. A Rússia, é aliada militar e segundo maior credor e enviou recursos e tropas em dez/2018. Cuba, Bolívia, Uruguai, México, Turquia, Síria, Irã, Coreia do Norte estão do lado de Maduro. Do outro lado, EUA, Brasil, Argentina, Colômbia, Canadá, logo anunciaram apoio, pressão, embargos totais e promessas aos militares que, se mudarem de lado, seriam anistiados. Claro que o embargo total na compra de petróleo para não dar saída a Maduro é a estratégia política atual, como no tempo dos sítios às cidades até que a população morresse de fome.
Maduro, no poder desde 2013 fala em golpe. Desfila com os militares que ainda o apoiam e acusa o neocolonialismo americano. Reeleito em 2018 tem apoio de 9 ministros militares em 32 e de uma boa parte da população.
Um ultimato da França, Espanha, Reino Unido, Alemanha foi claro: 8 dias para Maduro convocar novas eleições ou Guaidó será reconhecido como novo Presidente, no mesmo mês de fevereiro, 20 anos da chegada de Chaves ao governo em fev/1999. Teme-se um banho de sangue se nada for conseguido em tempo breve pela diplomacia internacional, mesmo que seja aquela do interesse pelo petróleo.
Na Itália o M5S invoca o princípio da soberania popular e a não ingerência, a Lega Norte condena Maduro e quer a sua saída imediata, como se vê diariamente na mídia. O MAIE segue a linha da Lega e, através do Subsecretário Merlo, pede a imediata saída de Maduro e novas eleições já.
O PD de Porta já instrumentaliza e exagera: “Uno schiaffo ad una delle più grandi collettività italiane al mondo” critica o ex-deputado, e pede “demissões”, cobrando, na verdade, que o M5S tenha a mesma opinião que ele tem manifestado publicamente a favor de Guaidó.
A posição do M5S dentro do governo italiano está adiando uma decisão conjunta da Comunidade Europeia e, neste momento, até o Papa Francisco busca um entendimento diplomático. O prazo dado e as negociações estão acabando. O que precisamos e almejamos é que haja uma solução que priorize o bem-estar do povo Venezuelano, em paz, sem guerra e mais sofrimento aos nossos vizinhos. Resta acomodar os interesses dos dois lados da guerra fria comercial. Magari!