A Espera como Esperança
01/03/2024
Heráclito de Éfeso, grande filósofo grego nos provoca a entender a espera como um paradoxo, para esperar o inesperado, onde teríamos como fim a esperança.
Usemos a liberdade que temos, mas nem sempre os nossos sentidos encontram os meios para saciar os desejos. Vários são os obstáculos que nos são apresentados pelo caminho, alguns parecendo inatingíveis como altas montanhas. A espera então é necessária para superar estas barreiras, dentro das nossas possibilidades.
E, muitas vezes, sequer ouvimos este chamado, por conta da pressa dos dias e falta-nos a inteligência de saber esperar, exercício diário nada simples e nada fácil. Isso porque temos que acreditar naquilo que não temos e sequer vemos. Não há certeza, há sim muitos mistérios do não saber. Desafio simples para alguns, uma verdadeira guerra para outros tantos, que conferem à esperança a possibilidade de vencer dramas pessoais, situações insolúveis, que trazem consigo muita angústia e alguns episódios trágicos até.
A modernidade e atual tecnologia tornou-nos quase máquinas, vivemos em função delas, navegamos, mergulhamos e imergimos na ilusão dos mundos possíveis ou realidades em que nossos desejos e vontades podem ser facilmente realizados. Até os corretores automáticos facilitam nossa vida, assim como tudo pode ser pesquisado sem maiores reflexões e aprofundamentos. Uma superficial moleza só!
A esperança, então, transmuta-se de virtude em fraqueza, onde tudo existe para nos provocar desejo e satisfação imediata. Tudo garantido pela mídia que incute nas pessoas a ideia de que não ser capaz quer dizer não haver esforço suficiente ou ter alguma doença. A meritocracia é o que define tudo, sem questionamentos.
Esperar também pode significar a tragédia e o desespero, cuja dimensão da dor só sabe quem a sente, que leva muitos a perdê-la, o que implicaria no fim da batalha. Não é uma necessidade qualquer, porque interfere até na autoestima, na confiança do inusitado que podemos encontrar na vida. E quantas possibilidades se abrem aqui!
Quem espera o inesperado, não é um fantoche do destino, das dinâmicas da própria vida. É alguém desperto e prevenido. Mesmo que não possa realizar tudo, ou algo no momento. Ah, mas como podemos esperar o inesperado, se não o conhecemos? Daí temos o paradoxo deste texto, quando podemos trazer mais um verbo: "esperançar", que é mais do que esperar, é animar-se, estimular-se, motivar-se, sonhar. Isto tudo significa esperar, mas sempre na busca da realização desejada.
Luís Molossi